terça-feira, 6 de abril de 2010

Sugestões de filme para complementar a aula de sonoplastia

1- O céu de Lisboa. Direção de Wim Wenders. Drama. Lisboa/1994.

2- Um tiro na Noite. (Blow Out). Direção de Brian de Palma. Ficção. EUA/1981.

3- Vermelho como o Céu (Red like the Sky). Direção de Cristiano Bortone. Drama. Itália/2004.



Comentários sobre os filmes


Estadão:
Vermelho como o céu: ver a vida com outros olhos

Por Luizanin
22/04/07

Ah, essas histórias de superação (verídicas, ainda por cima) sempre cheiram a pieguice. Por sorte, não é o caso. Vermelho como o Céu, de Cristiano Bortone, evita qualquer apelação lacrimogênea e o resultado é que, por isso mesmo, alcança, em sua simplicidade e sinceridade, aquilo que se pode chamar de uma emoção verdadeira. Isto é, não resultante de recursos apelativos.

Dessa maneira o filme foi reconhecido ao ser eleito o melhor entre os estrangeiros pelos freqüentadores da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo no ano passado. Passou pelo crivo do público exigente porque sabe dosar seus elementos dramáticos com senso de economia e trata seu personagem principal de maneira amorosa, porém sem complacência.

Quem é esse personagem? O garoto Mirco (Luca Capriotti), que tem uma infância como qualquer outra na Toscana dos anos 70. Família remediada, pai de esquerda, Mirco brinca com os amigos, vai com eles ao cinema, vive numa daquelas encantadoras cidades pequenas da Itália. Até o dia em que se fere brincando com uma arma de fogo e passa a ter a visão deficiente. Entra aí na história um dado tão cruel como interessante – na Itália daquela época, as crianças portadoras de deficiência visual eram obrigadas a estudar em escolas especialmente destinadas a elas, o que equivale a dizer que eram segregadas. É o destino de Mirco, que será transferido para um colégio para cegos em Gênova.
A idéia central de Bortone é destacar como o desenvolvimento da imaginação pode funcionar como remédio para uma possível limitação. Os meninos vivem uma infância que poderia ser normal: brincam, brigam, competem, aprendem e, quando chega a idade, se interessam pelo sexo. Poderia ser assim mesmo não fosse o pensamento derrotista do diretor que, cego ele próprio, já os coloca como inferiorizados diante da vida. O resto é uma bonita história de superação – e também de transgressão – que o espectador deverá conhecer por si mesmo.

Basta acrescentar que esse filme bastante singelo não precisa flertar com o lugar-comum para reafirmar que o ser humano é bastante plástico e sabe se adaptar mesmo às piores contingências. Basta que tenha alguma assistência e goze da confiança do próximo. Humano para o outro e através do outro, é o que este belo filme reafirma. Vermelho como o Céu entra na linhagem do cinema humanista contemporâneo, parente próximo do igualmente tocante As Chaves de Casa, de Gianni Amelio.

(SERVIÇO)
Vermelho como o Céu (Red like the Sky, Itália/ 2004, 95 min.) – Drama.Direção: Cristiano Bortone. 12 anos. Cotação: Bom


Cinefilia
Um tiro na noite

Escrito por Pedro Henrique
14/02/09

De Palma à lá Hitchcock

Brian de Palma é o diretor que mais registra influências do mestre Alfred Hitchcock no cinema contemporâneo. Um Tiro na Noite, suspense estilizado dirigido por De Palma em 1981, talvez seja o primeiro filme da carreira do cineasta a evocar explicitamente as técnicas utilizadas pelo diretor londrino. Apesar da maioria de seus filmes anteriores (Vestida Para Matar, Carrie - A Estranha, Trágica Obsessão) já carregarem referências visíveis ao cinema de Hitchcock, Um Tiro Na Noite mostra-se, desde o início, uma sucessão de imagens recorrentes do cinema do diretor de Janela Indiscreta. Mesmo tendo tanto de Hitchcock, o longa é influenciado diretamente pelo megaclássico de Michelangelo Antonioni, Blow-Up - Depois Daquele Beijo.

A rigor, o que se vê na tela é uma grande homenagem ao suspense clássico e lacônico de Hitchcock e uma referência notável ao cinema de Antonioni e seu Blow-Up. Nada disso, porém, indica que
Um Tiro na Noite não tenha voz própria. Via de regra, De Palma utiliza toda sua destreza com a câmera na mão (aqui sim há bastante de Hitchcock), os movimentos elegantes, a câmera panorâmica e, claro, o split screen. A decupagem de planos e locações evoca muito de Hitchcock também. Além disso, a trilha sonora provocante ajuda a criar a tensão constante que De Palma constrói com categoria.

A trama é centrada em um jovem técnico de som (John Travolta) que presencia um acidente que resultou na morte de um Governador. Como estava captando sons para seu próximo filme, Jack Terry acabou "pegando" os ruídos do acidente e, a partir daí, resolve investigar. Através de suas gravações ele tenta mostar as peças do intrincado quebra-cabeças. Em meio a tudo isso, Jack acaba conhecendo Sally (Nancy Allen). O problema é que Jack percebe que o acidente não foi tão simples, e acaba virando alvo de pessoas do alto escação político.

Assim como o próprio título original (
Blow Out) já sugere, o longa evoca o mesmo tema intrincado que Blow-Up, de Antonioni. Aliás, o tema preferido de Antonioni era o silêncio. O diretor trabalhava muito com imagens, entregando belos quadros em seus filmes, além de sempre cuidar excessivamente da fotografia. O olhar triste, a estilização, a fotografia nervosa, tudo parece funcionar em perfeita sincronia em Um Tiro Na Noite. O que De Palma faz é um filme de suspense pontuado com cenas brilhantes (repare a técnica da cena no banheiro, com direção esplêndida e ângulo panorâmico) e tensão crescente, mas sem nunca ser vago.

(Se você não viu o filme não leia este parágrafo) O segundo ato é dedicado apenas as estripulias que o diretor resolve fazer com a câmera (muito bem-vindas, por sinal). Os movimentos suaves e elegantes emprestam ao filme um clima de suspense muito peculiar em filmes da década de 60. Aliás, De Palma propõe movimentos ousados (como quando Jack descobre que suas fitas foram roubadas, a câmera dá vários voltas sem cortes para desorientar o espectador) e, no final, em um espetáculo de direção, o cineasta atinge o clímax extremo em uma cena de tirar o fôlego.

Ao que parece,
Um Tiro na Noite foi um filme que, além de ter sido feito como uma grande homenagem à Hitchcock (mas sem nunca deixar a voz do autor se perder) e um sincero e poderoso libelo a favor do filme de Antonioni. No final, arrebatador e sujestivo, De Palma imprime sua marca e finaliza Um Tiro Na Noite com perfeição. Como um quadro de Van Gogh no auge da loucura.

(Blow Out, EUA, 1981) Direção de Brian De Palma, com John Travolta, Nancy Allen



Win Wenders


Sobre Biografias Por Algosobre

conteudo@algosobre.com.br

Cineasta alemão (14/8/1945-). Nasce em Düsseldorf. Abandona os estudos de medicina e filosofia para se dedicar a cursos de cinema. Em 1967 vai para Paris, onde faz seu primeiro curta, Schauplatze. Entre 1968 e 1972 trabalha como crítico da revistaFilmkritik e do jornal Die Sueddeutsche Zeitung.

Em 1971 forma a organização Filmverlag der Autoren, que permite a jovens diretores a produção e direção de seus filmes. No mesmo ano dirige O Medo do Goleiro diante do Pênalti. Influenciado pela cultura norte-americana do pós-guerra, especialmente pelo cinema noir, aborda em seu trabalho o sentimento de isolamento e alienação, evidentes em Alice nas Cidades (1974), em O Estadodas Coisas (1982) e sobretudo em Paris, Texas (1984), ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes.

Em 1987 filma seu maior êxito de público:Asas do Desejo, abordagem poética de uma Berlim vista pelo olhar de anjos. Em 1992, quando preside a Academia Cinematográfica Européia, sugere que a violência seja banida das salas de exibição, mas a idéia não faz sucesso. Mesmo assim, cinco anos depois, filma O Fim da Violência, feito sob encomenda para os estúdios Disney.

Na década de 90, já sem tanto reconhecimento da crítica, lança Até o Fim do Mundo (1991), O Céu de Lisboa (1995), Além das Nuvens (1995), em parceria com Michelangelo Antonioni, eBuena Vista Social Club (1999), documentário sobre a música cubana.


Site oficial do diretor

http://www.wim-wenders.com/

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